sábado, 23 de fevereiro de 2013

Please, fasten your seatbelts

Long time, no see. Após 3 semanas em Macau, estou finalmente estabilizado e muito contente por poder finalmente parar e dar alguma atenção ao blog.
Sim, ainda continuo a ir todos os dias para o trabalho com aquele sorrisinho de bebé deslumbrado, de quem está num mundo onde não pertence, como se isto fosse tudo um sonho (mas calma, nem tudo é um sonho... já lá vamos...), irreal, fabuloso. Ainda continuo a espantar-me com o tamanho dos edifícios, com o ritmo frenético dos chineses que não param um minuto (excepto os 15 minutos depois de almoço em que aplicam a testa na mesa e ficam offline por uns momentos).
Os edifícios, pelo menos os principais, são de uma sumptuosidade (às vezes exageradamente exibicionistas, a resultar num "luxo tosco") incrível, embora o gosto nem sempre seja o melhor... O dinheiro parece estar em todo o lado, e só o facto de ao vir para o escritório passar por lojas Gucci, Chanel, Armani, Louis Vuitton, Dior, Prada, ou de entrar em qualquer casino e ele estar cheio já diz tudo.
Em cada rua, há qualquer coisa a ser construída. Geralmente são edifícios enormes... Ou o metro...
Sim, aqui há dinheiro! E com todas as vantagens e desvantagens inerentes - esta é para quem ainda se lembra do vídeo viral "e se o dinheiro não existisse".
Não sei como Macau se transformou no que é hoje, nem sei o que era Macau em tempos idos em que Portugal era Senhor destas duas ilhas+península, que hoje graças às maravilhas da engenharia, é apenas uma ilha+península, e que no total não chega a ter a área da cidade do Porto.
Sei apenas que por trás deste deslumbramento, desta riqueza, tenho dificuldade em descobrir, em cada chinês, verdadeira felicidade. Ou há uma felicidade falsa, superficial, ou então - regra geral - vejo rostos fechados de pessoas que pertencem a uma sociedade que vive focada em trabalhar e (pelo que me parece) não conhecem o significado de "lazer"... Ou eu ainda não me adaptei à fisionomia oriental, ou parece-me que os chineses, em regra, não são felizes. Ou são, mas de uma forma diferente...
Por falar em diferenças, assim de repente, impressiona a forma voraz com que os chineses manobram os pauzinhos enquanto cospem os ossos e tudo o que não é comestível para cima da mesa (provavelmente isto só se aplica a uma minoria da população, mas é verdade que a imagem do chinês a devorar a comida em 2 minutos e a cuspir para cima da mesa marcou-me). Também é estranho ouvir arrotar "like a boss" no meio da rua, ou ver o motorista do autocarro a cuspir no chão, mesmo ao lado dos meus pés.
Mas isto são só diferenças culturais. O estranho aqui somos nós, não eles, porque eles estão em casa. Costuma dizer-se que "a terra onde fores ter, faz como vires fazer" - e eu já aplico isto, por exemplo, a entrar nos autocarros a empurrar e dar cotoveladas em toda a gente...
O choque cultural existiu mesmo, garanto. Mas vamos com calma, porque na verdade: "People are strange, when you're a stranger...", já dizia o Jim Morrisson.
No resto, estou muito bem aqui!!! Posso dizer que estou a adorar!!
Claro que de vez em quando bate uma saudade de casa, das minhas pessoas, da comida, do céu limpo... Há uns dias fui dar uma volta por aí e encontrei um monumento que dizia isto assim, mesmo em português, na porta:
ALTO! SENTIDO!
RECORDA POR UNS INSTANTES
A HISTÓRIA LINDA DA NOSSA
PÁTRIA. ENTRA ALTIVO E DE
CABEÇA ERGUIDA PORQUE ÉS
SOLDADO DESSA PÁTRIA!!
E confesso, aqui, do outro lado do mundo: nunca, em 26 anos, me senti tão português como naquele momento...
E por hoje chega...